sexta-feira, 19 de junho de 2009

Balada Perigosa

Era uma sexta-feira a noite comum, como todas as outras, mas não para o José Ricardo. Acostumado com uma vida livre sem respeito a horários, pudores, limites, amores, companhias e locais freqüentados, naquele momento enfrentara uma nova/linda fase da sua vida, mas ao mesmo tempo, como um paradoxo, difícil/isenta dos prazeres pecaminosos da noite. Afinal, havia começado a história que poderia mudar a sua vida, o namoro.
Sem poder vê sua bela naquela sexta à noite, pelo fato de família dela ter princípios tradicionalistas de cumprimentos de horários, preocupação em perder a hora no dia seguinte para ir para aula de pós-graduação, Zé (carinhosamente chamado) sente que sua única companhia seria seu velho travesseiro e os pôsteres de rock n’ roll pregados na parede. Conformado com sua sentença, fecha os olhos e torce que pelo menos seus sonhos com aquela loira da TV salvem sua noite. De repente percebe uma música bem longe, tocando, ele conhecia, era Highway Star , sim, era o seu celular e aquele toque só poderia ser dos cavaleiros da noite, seus infalíveis amigos que iriam lhe resgatar da tortura do colchão e do fiel travesseiro.
Meio desconfiado entra no carro e rapidamente coloca seu boné, sentindo que aquilo lhe ajudaria a passar despercebido caso encontrasse alguma mente capaz de delatá-lo.
Chegando no bar que tem um estilo pub inglês da época dos Beatles com adaptações do conforto da vida moderna, quadros de banda na parede, rock n’ roll, cervejas de vários países, gente bonita que vão ali simplesmente pela balada, não pela noite bohemia e uma boa música. Zé se sente parcialmente confortável, aparentemente nenhum conhecido capaz de delatar sua aventura noturna.
Tudo ia muito bem, cerveja gelada, amigos e até um cara novo de quase dois metros de altura com um jeito diferente de ser que eles acabaram de conhecer. Quando percebe um ser que jamais gostaria de encontrar naquele momento, talvez fosse um castigo do “Todo Poderoso”, do “Manda-Chuva”, do Criador.
Agora, já era tarde, ele e seu mais novo inimigo se encontrariam mais cedo ou mais tarde no balcão da cerveja em uma ligeira conversa de bêbado ou na mesa de bilhar dando a tacada final ,ou pior, no mictório do banheiro ao som de Hitchcock.
Seu maior pesadelo vem andando e cumprimentando todos com uma simpatia amarela distribuindo sorrisinhos. Era ele, o Fotógrafo da Balada.
Sabe aquele sujeito com um visual cult, oclinho by night, pochete e calça meio folgada.
É estranho, mas as pessoas se transformam (principalmente as mulheres) quando veem aquele ser adentrando a porta em câmera lenta, com aquele objeto pendurado no pescoço que para muitas parece um colar de um milhão de dólares, hipinotizando, pronto para fisgar o ponto fraco do ser humano, a vaidade.
Uma olhada discreta para o espelho do bar, para parte em inox da parede ou o infalível conselho da amiga dizendo:

- Menina, você está ótima, joga o cabelo pro lado e solta aquele sorrisinho!

Mal sabe a ingênua amiga que suas instruções foram para deixá-la menos bonita que ela, mentes maquiavélicas, (Deus obrigado por ser Homem).
Cabelos devidamente em seus lugares, sorrisos forçados estampados (como o botóx ajudaria nesses momentos), poses minunciosamente arquitetadas, pronto, é a hora do grande momento, tensão, nada pode sair errado, uma espera interminável, ansiosa, finalmente o clímax, o flash.
Mas como todos devem saber, aquele sujeito de objeto pendurado no pescoço não saiu de casa, enfrentando chuva, fumaça no seu rosto vindo das infinitas tragadas de cigarro alheio apenas para fazer as pessoas das baladas mais felizes. Agora vem a cobrança inconsciente daquele inocente flash. Levemente em um ato discreto e astuto ele abre a pochete cult e saca sua arma de aproximação, o cartãozinho de visita, antes mesmo que as pessoas da balada, já embriagadas e tropicando nos pés das mesas perguntem:

- Pra que site que vai? (com voz embriagada)

Geralmente a hospedagem dessas fotos serão em sites com nomes um tanto original pra não dizer exótico:
Balada Certa;
Planeta Balada;
TV na balada (TV, pronúncia em inglês);
20 V na Balada;
Te Peguei na Balada.

Assim o dono dos flashs concretiza seu objetivo de obter alguns acessos ao seu novíssimo blog, flirck ou site.
Mas esperem, vocês lembram do Zé?
Imaginando que o indivíduo cult o delatasse inconscientemente através dos seus flashs infernais, Zé começou a suar frio. Passam mil coisas pela sua mente, inclusive as histórias sem pé e sem cabeça que irá defender com unhas e dentes para sua amada, como:

_ Não era eu, era o meu clone;
- Não queria te contar, mas tenho um irmão gêmeo;
- Ah! Isso foi uma montagem. Estão querendo me afastar de você (joga a responsabilidade pra ela).

Finalmente para desespero do nosso amigo, o fotógrafo especializado em balada vem em sua direção, encurralando-o, só resta encarar o seu destino.
Todos nas suas devidas posições, Zé permanece com a cara emburrada, torcendo para que algo supremo salvasse a sua relação que seria finalizada pela mentira.
O Fotógrafo cult, tentando uma aproximação com a new galera pede para que todos falem XxxxxxxxxXxxxxxxxXxxxxxxxx. Zé permanece estático, é feita a contagem, 1....,2...., - parecia um pelotão de fuzilamento, não lhe deram nem ao menos um cigarro e direito de dizer suas últimas palavras como namorado – 3... Eis que acontece um milagre, daquele tipo filme hollywoodiano, de 24 horas com o Jack Bauer, desarmando a bomba no último segundo. Mas o Jack Bower dessa história foi o Tonhão, uma biba de quase dois metros de altura que se atira na frente do Zé gritando.

-Aiiiiiiiiiiiii Para tuuuuuuudo gente!!!!!!!!!

Felizmente encobrindo totalmente o Zé.

Alucinada (o) por foto, Tonhão cria um auê e salva nosso amigo.

Milagre de Deus? Só pode! Zé agradecia ao Santo Casamenteiro, em um surto de felicidade deu um abraço apertado no cara que só podia ser Santo, o Tonhão.

O pior já tinha passado, agora era aproveitar a noite, com rock n’ roll, cerveja e os amigos. Afinal tudo iria amanhecer bem! Será? Eis que... (mas isso é outra história).

4 comentários:

  1. Cara, muito bom o seu texto, muito bom mesmo! Favoritei o seu blog!

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  2. Valeu Micael!!!! Vamos ter muito mais!!!!

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  3. Pubs ingleses viram moda. Moda passa a ser uma foto publicada em sites de gente que assiste novela e lê revista Caras. Patricinhas ouvem Deep Purple e discutem os episódios de Malhação. Fotógrafos pseudo-intelectuais usam credenciais para conseguirem um pouco de atenção. Escapadas noturnas para fugir da solidão e do vazio - rotineiros. Pra se salvar disso tudo, somente uma cerveja gelada, uma boa conversa e o nosso bom e velho Rock and Roll!

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  4. Muito bacana... adorei lindo... pode ter certeza que ficarei esperando os proximos contos ansiosa...rs

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